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Cílios lilás e argolas

Por Maria Vitória Freitas


É uma terça-feira de janeiro, por volta das 16h26, quando o trem apinhado de gente para na estação Santo Amaro, na zona sul da cidade de São Paulo. Quem esta de fora, aguardando na plataforma, vê a ansiedade de quem só quer se desvencilhar do desconforto em dividir um vagão com mais de 50 pessoas cansadas, estressadas e suadas.



As portas se abrem, passos acelerados em direção às escadas rolantes, alguns correm para garantir um trajeto mais curto utilizando o elevador, outros saem de forma mais tranquila, como foi o caso do moço de cílios lilás e argolas. Um rapaz negro, no auge dos 20 poucos anos, com aproximadamente 1.80 de altura, cabelo black power, calça xadrez e um estilo único. Ele usava brincos de argola e um rímel que deixava os cílios lilás, totalmente seguro de si.



Vi nos olhares de alguns homens certa reprovação, até repulsa. Mulheres balançavam a cabeça em sinal de negação. Não entendi, achei o efeito da cor tão bonito em um cotidiano tão cinza da cidade. Era ousado e iluminado. Questionei-me: quantas mulheres maquiadas não passam por esse mesmo local? Por que tanto choque? Só porque ele é homem?


As questões de gênero e estética estão intrinsecamente conectadas em uma sociedade estruturada sob o patriarcado e sob a premissa de que o homem tem de ser macho e viril.

Ali, no meio da multidão de uma São Paulo tão apressada e ansiosa, enxerguei o poder de ser quem se é. Autenticidade e confiança independem de gênero.

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