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Genderless: a moda que veste sem estereótipos

Atualizado: 27 de mai. de 2020

Por Isabela Oliveira


Quando, na década de 1920, a estilista francesa Coco Chanel revolucionou os ideais clássicos da época ao apresentar para as mulheres um estilo de roupa mais confortável e inspirado nos trajes dos homens, era impossível imaginar que, em algum momento da história, a vestimenta seria escolhida de acordo com a personalidade e sem as limitações impostas pelo gênero. Entretanto, nos anos 70, foi criado o conceito genderless, que busca acabar com a diferenciação entre masculino e feminino.

O Relatório de Inteligência de Saúde, Beleza e Bem-Estar do Sebrae, divulgado em junho de 2019, relembra que, na década de 1970, o cantor britânico David Bownie buscou desconstruir estereótipos de gênero ao incorporar em seu visual itens considerados femininos. Já nos anos 80, o estilista Jean Paul Gaultier se empenhou para quebrar paradigmas em seus desfiles de passarela e passou a ser seguido, mais tarde, por outras grifes.

Em entrevista concedida ao blog MorumbiShopping, o estilista Dudu Bertholini afirma que a classificação binária não se encaixa mais na sociedade atual, visto que “sexo é algo biológico, mas gênero é uma construção social e ele tem que estar de acordo com a sua personalidade, com quem você é”. Bertholini ainda acrescenta que o mundo contemporâneo é caracterizado pela fluidez e “nos nossos guarda roupas, isso faz com que a gente se apaixone pelas roupas sem estar designado a um gênero”.

Para a jornalista e consultora de imagem Fabiana Corrêa, o estilo é retrato de um conjunto de características individuais e deve se adequar às necessidades do dia a dia e àquilo que se busca alcançar no decorrer da vida, portanto, ninguém vai a uma loja com a intenção de encontrar peças de roupa pensadas para ambos os sexos e, sim, em busca de algo que, ao olhar no espelho, o faça se sentir reconhecido, até porque “a moda sem gênero pode ser feita a qualquer hora e qualquer momento, por qualquer um que quiser usar”, diz.


Um conceito que vai além da costura

Uma das maiores dificuldades quando há quebra de estereótipo é a aceitação por parte da sociedade. Para o modelo e estudante de moda Vinícius Alves, 20, foi atribuído à vestimenta um valor simbólico para reforçar valores culturais e, com isso, “desvincular o valor de signo para a categoria gênero binário na roupa não depende só de quem a veste, é algo que depende de toda uma cadeia, uma vez que a roupa é pensada, produzida e lida de certa maneira”, ressalta.

No documentário The September Issue (2009), a editora-chefe da revista Vogue norte-americana Anna Wintour aponta que, em geral, quem critica a moda se sente, mesmo que inconscientemente, excluído ou não faz parte daquele grupo e, para o analista de mídias sociais Bruno Morais, 20, é impossível passar despercebido quando há uma ruptura no que é considerado habitual. Apesar de nem sempre ter se vestido como desejava, Morais acredita que as roupas “são apenas tecidos e cortes que podem demonstrar como estou me sentindo em determinado dia e mostrar minha identidade”, argumenta.



Nascer para representar

Perceber as necessidades da atualidade também é atribuição dos estilistas, que desenvolvem produtos com base na história, na evolução e nos paradigmas da moda. A marca de roupas PANGEA surgiu da vontade de proporcionar uma experiência de consumo diferente do modelo adotado pelas lojas de vestuário convencionais, já que, para ela, “com os debates sobre expressão e identidade de gênero fervendo por todo o mundo, a moda agênero se posiciona não como uma tendência que passa mas, sim, como um discurso político de liberdade, diversidade e respeito a todos”.

Já no caso da marca nøgen, o propósito de criar peças básicas, essenciais e que tenham uma paleta de cores que se complementam trouxe uma diversidade de público, já que os modelos são versáteis e fáceis de serem compartilhados. “A gente pensa na necessidade básica dos corpos, no que eles se diferem, e tentamos chegar num intermediário. Nenhuma peça, por exemplo, foi pensada para ser justa no corpo. Isso facilita no processo e na comercialização do produto”, afirma Raphael Dias, um dos sócios.

Sinônimo de atitude e autenticidade, o cantor, compositor e ator inglês Harry Styles é um exemplo de celebridade adepta à moda que veste sem estereótipos – colares de pérola, saias, anéis, brincos e blusas rendadas fazem parte dos looks. Em entrevista concedida à revista Vogue Brasil, Styles declara que o que as mulheres ou os homens usam não é uma questão, portanto, a partir do momento em que você fica mais confortável de ser quem você é e usa aquilo que tem vontade, tudo fica muito mais fácil.

Sentir-se representado na mídia é um dos fatores que tem o poder de encorajar pessoas a usarem aquilo que gostam e que as deixam confortáveis. Além disso, assim como Harry já argumentou em algumas entrevistas, estilo não tem relação com orientação sexual, mas sim, com querer passar uma mensagem para o mundo. O propósito do conceito genderless é mostrar que as diferenças entre os sexos não são tão grandes como a sociedade acredita e que, por isso, não é lógico manter uma classificação binária, seja na moda, na beleza ou em qualquer outra categoria.

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